10 de abr. de 2009

Twitter: uma biografia não autorizada


Parte I – O primeiro encontro

Cruzei com uma Chevrolet Lumina na rua dias atrás. Eu voltava do mercado, final do dia, parado no semáforo. De repente aquele colosso atravessou elegantemente a avenida Giovanni Gronchi. Apesar de já deixar até as balzaquianas das vans para trás, a Lumina (foto) foi pioneira no início da década de 90 em se tratando de design inovador. Hoje, é uma senhorinha quase esquecida pela maioria dos mortais.


Na época em que foi lançada, me lembro de ouvir gente dizendo que aquele design não iria vingar, que era muito futurista, muito isso, muito aquilo. O fato é que a Lumina não só trouxe um novo paradigma para o mercado de vans no Brasil, como também serviu de inspiração para os modelos que a sucederam nos anos seguintes (compare com a foto do último lançamento da Citroen, a C4 Grand Picasso). Lembrem que foi bem naquela época que o ex-presidente Collor abria a porteira para as importações, o que fez com que a indústria nacional saísse do marasmo e tirasse o traseiro da cadeira.


No mesmo dia em que tive o encontro com essa senhora, a dona Lumina, fui apresentado a um recém-nascido, desses aí da chamada geração índigo, ultrarrápidos, conectados, futuristas (igualzinho minha senhora amiga de anos atrás). – Prazer, Rodrigo. Como vai? – Vou bem, ele me respondeu. Me chamo Twitter.

Parte II – Professora de inglês

Desci as compras do carro e segui em direção ao elevador. Uma bela morena, de cabelos presos, calça jeans, camiseta e tênis brancos, olhos pretos, abriu a porta para eu entrar, já que, com as mãos carregadas de sacolas, o máximo que consegui fazer, além de segurar o queixo(!), foi dizer boa tarde, obrigado.

Luana puxou conversa comigo para me informar que estava dando aulas particulares de inglês. Aproveitei a deixa para tirar uma dúvida que tinha a respeito da tradução do verbo “to twit”. Afinal, ela voltara da Inglaterra havia poucos dias, vernáculo na ponta da língua, cuca fresca no oásis dos 19 anos.


Eu estava curioso para entender a origem do nome daquele recém-nascido, criança precoce, já falava várias línguas, se comunicava na velocidade da luz. Como eu não sabia a tradução literal de twitter, logo, se descobrisse o que twit queria dizer, mataria a charada.

A professora não soube me responder de bate-pronto, mas se prontificou a pesquisar em seus dicionários e me retornar ainda naquela noite. Duas horas mais tarde, Luana tocou a campainha. Abri a porta, surpreso com aquela visão, e a convidei para entrar e se sentar.

– Não posso ficar muito tempo, tenho uma aula daqui a pouco. Mas consegui achar o significado do verbo twit. Quer dizer tirar sarro em alguém, ridicularizar, zombar, esclareceu Luana.

Agradeci pela ajuda, ela partiu, e eu fiquei ali em pé, pensando em como meu recém-amigo poderia se chamar zombador, aquele que tira sarro, ridicularizador, Twitter.

Parte III – Tio Google

Apesar de muito novinho, Twitter já tem profissão. Na verdade, já tem seu próprio negócio. Naturalmente, Twitter escolheu a internet para difundir seus serviços, e o sucesso não tardou a chegar. Tanto é que o Google pretende comprá-lo por 250 milhões de dólares. Uns dizem que o Twitter vale até 500. Não tenho a mínima condição técnica para fazer essa avaliação, mas posso dizer que se o Google tem olhos grandes para cima do Twitter, é porque o negócio deve ser bom mesmo. A propósito, o Google é o tio não consanguíneo do Twitter. De comum mesmo, só o silício do DNA.


Parte IV – Já sofro de bullying

Para quem não se lembra, bullying é um termo que vem sendo utilizado por educadores na América do Norte e na Europa (e cada vez mais no Brasil) para definir o desvio de comportamento de crianças e adolescentes nas escolas.

Pode-se melhor traduzir “bullying” como provocação, zombaria, ameaça, comportamento que assusta ou fere alguém menor ou mais fraco. Especificamente, na escola, intimidação física dos colegas mais fracos pelos mais fortes.

O meu amigo Twitter, apesar de seu tio Google querer ‘adotá-lo’, já sofre de bullying. Como tudo que faz sucesso nessa vida, o Twitter chegou e já causou muito desconforto. Há milhares de posts negativos sobre a criança nos quatro cantos do mundo.


A principal queixa dos incomodados é que o Twitter logo cansará o povo. Afinal, de que me adianta saber o que o fulano comeu no café da manhã, ou então que o sicrano passou a tarde apagando os arquivos deletados do seu computador (?), ou que o João está ouvindo Radio Head no iPod touch mega flex rubber simphony?

Parte V – Plástica e Twitter quântico

Tudo bem, pode parecer meio superficial falar assim, mas estou começando a desconfiar que o Twitter é neto da Sra. Lumina. Lembra-se dela? A dona Lumina? Na avenida Giovanni Gronchi?

Pois é. Assim como a van noventona da Chevrolet, o Twitter chegou para ficar. Não necessariamente como é agora (até porque hoje a Lumina está com o design ultrapassado), mas certamente para criar novos paradigmas e remodelar a cara da internet, que, diga-se de passagem, já está na hora de fazer um face lift.

A questão é que muito pouca gente (e eu não me incluo nesse grupo) consegue visualizar a amplitude e a potencialidade desse menino Twitter. A gente (agora sim me incluo ;)) simplesmente não sabe direito para quê usa-lo. Mas o cheiro que sinto é que num futuro breve a conectividade será de tamanha magnitude, que celulares (os quais ninguém tira do bolso ou da bolsa), notebooks, palms, desktops, MP3/4/5’s, rádios do carro, enfim, todas as mídias que frequentam nossas vidas passarão a se falar em tempo real.


Isso já acontece hoje de uma forma mais sutil. Quando edito a minha mensagem pessoal no MSN através do Nimbuzz instalado no meu celular, automaticamente aquele conteúdo é atualizado no meu Twitter, Skype, Orkut, blog, Yahoo, Facebook, Google Talk, MySpace e, é claro, MSN. Quando faço isso, tenho aquela sensação de ser uma partícula quântica, que é única mas pode ser vista em diversos locais no espaço.

Fico imaginando o poder do Twitter daqui a alguns meses, talvez um ano ou dois. Além disso, em estudos técnicos sobre o assunto, ficou provado que os usuários do Twitter têm redes mais interconectadas, o que justifica o buzz causado por esse bem-vindo rebento.

Parte final – Follow me?

Como não sei muito bem o que fazer com o Twitter, dei uma pesquisada na internet para saber um pouco mais sobre esse pequeno gênio. Encontrei um artigo interessante sobre o assunto no site http://pontomidia.com.br/raquel/, intitulado "Twitter: Muito barulho por nada?".

Para entender alguns dos motivos que fazem o Twitter ser capaz de gerar tanto buzz, me perguntei: por que isso acontece? Encontrei no site a seguinte resposta dada pela jornalista e professora Raquel Recuerono:

"Primeiro por conta da própria estrutura do Twitter. Como site de rede social, ele permite uma complexificação muito grande de suas redes internas, que parecem ser bastante interconectadas (...). Como é mais conectado, as informações circulam mais rápido e de forma mais abrangente. Segundo porque (...) o Twitter foi adotado como uma ferramenta informacional e é por causa disso que tem uma capacidade muito maior que a dos outros sites de propagar informações e ampliar o seu alcance. Para mim, é nessa característica de difusão de mensagens pela rede que está o diferencial do Twitter e que está a explicação enquanto gerador de buzz. Finalmente, o Twitter foi apropriado por um grupo de usuários de Internet que eu chamei heavy users. Isso significa que são pessoas envolvidas com mídia digital, pessoas que valorizam essas conexões e suas trocas e finalmente, pessoas que possuem outras ferramentas (como blogs, fotologs e etc.) que auxiliam a amplificar o poder de difusão de informações da ferramenta.”


Eu tenho um palpite. Assim como quem usava celular todos os dias, tinha micro em casa e fotografava com câmera digital 15 anos atrás era considerado “heavy user”, imagine o que o Twitter não vai causar quando nós, comuns, estivermos a todo vapor com nossos blogs, fotologs, mídias digitais e sabe lá o que ainda está por vir.

Pródigo ou prodígio, esse menino vai continuar dando muito o que falar. Agora me dêem licença que vou postar o link para este artigo no Twitter. Do you wanna follow me? @rodrrigo.


4 comentários:

Roseli Turini disse...

Excelente Rodrigo,

Adorei a matéria, parabéns...
Sou uma usuária fanática da internet e tb estou no Twitter....apanhando muito porque, assim como vc nem sei ainda para que , porque ou como usar...mas vou pesquisar, como vc fez...rsrs
Afinal, sou uma Lúmina antenada nos Ipods, Iphones, e todas as ferramentas modernas e sofisticafas....é fascinante decifrar esses aparelhos e sites...rsrsr

Forte abraço e I'll follow you at Twitter

raquel disse...

Muito engraçado. hehehehehe

Sissi disse...

Estou com medo de fuçar naquele bichinho, deixei o perfil quietinho lá. Vou espiar um pouco primeiro.

M disse...

a princípio eu achava o Twitter a maior inutilidade recentemente criada. mas tem uma coisa que me controla: curiosidade. ela nasceu e aí já viu.
mas, estranhamente, a maior utilidade do Twitter pra mim é estar em contato mais frequente com amigos de outros estados. nem o Orkut ou o MSN promoveram isso pra gente.

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