1 de jul. de 2009

Uma beleza sozinha não faz verão

Escrevi há pouco um e-mail em resposta a minha amiga Izabelle, que mora em Portugal. Ela, brasileira, já lá se instalou há anos, mas o nosso reencontro, mesmo que cibernético, fez-me voltar no tempo. Lembranças da adolescência. Gostosas recordações.

Algo que me chamou a atenção foram o jeito e os trejeitos dela ao escrever. Um português lusitano -- com o perdão do pleonasmo -- com aquele mesmo charme que os americanos apreciam nos ingleses, e estes, nos franceses.

E ao me deparar com essa diferença, sutil diferença, pude notar, pela enésima vez (mas a primeira que me leva à pena, ou melhor, ao teclado), o quão bela e rica e elegante é a nossa língua portuguesa.

As possibilidades de mover artigos, verbos e pronomes de lugar, sem alterar o sentido da frase, mas lhe conferindo mais poesia ou intenção ou tom (como que se não pudesse um tom ser poético, ou uma poesia, bem ou mal intencionada).

Sempre gostei de estudar outras línguas. E idiomas também. Mas tratemos dos idiomas por ora. Desde pequeno fuçava em dicionários, enciclopédias, sempre encantado com o novo, com o diferente, com o distante, mesmo que este estivesse sob minhas narinas.

Já me disseram que essa vocação, se é que se pode chamar de vocação, é influência da minha Lua na nona casa astral e de Júpiter na terceira. Deve ser mesmo. Afinal, a Lua rege meu signo solar, e o planetão, Júpiter, governa o meu setor de curiosidade, conhecimento, contatos sociais.

Mas o fato concreto, que penso não causar controvérsias astrológicas, é que tenho cada vez mais claro dentro de mim que a beleza do que somos, e do que temos também (como, por exemplo, a nossa língua portuguesa), só pode ser apreciada quando temos como referência o outro, ou a outra, se preferir.

Mesmo assim, ressalvo: como é impressionante nossa capacidade de ignorar as coisas preciosas que nos servem a vida toda, como a família, a noção de Pátria, os amigos verdadeiros, o trabalho, a língua! Parafraseando os anglófonos, "we take it for granted" (se alguém souber de uma tradução boa para essa expressão, por favor, compartilhe).

Enfim, arremato esse texto, que pode parecer solto, mas cuja intenção é propor uma reflexão sobre como a diversidade pode ser a via mais legítima para se enxergar a nossa própria beleza humana, com a seguinte ideia: se a minha beleza depende da do outro para existir, logo é a partir do respeito ao que é diferente de mim que serei respeitado!

Tão simples, tão elementar. Basta querermos olhar ao redor e enxergar. E aprender que dar risada de nós mesmos pode ser um sábio aprendizado.

Afinal, assim como andorinha, uma beleza sozinha também não faz verão.

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