2 de jun. de 2009

Drummond para o meu epitáfio

E também condolências às vítimas do voo AF447



Encarar o tema da morte, por mais mórbido ou desagradável que seja, nos é inevitável.

O trágico acidente de hoje com o avião da Air France mexe com o fundo da nossa consciência e nos faz refletir sobre quão sensíveis, pequenos, frágeis somos e, ao mesmo tempo, tão queridos, únicos e especiais.

Apesar de, no mundo, morrerem anualmente mais pessoas vítimas de picadas de abelhas do que de acidentes aéreos, só nos deparamos com a morte, a única certeza que temos sobre a existência, quando ela nos choca como nos chocou o noticiário nesta manhã.

Por isso, quero aqui, além de deixar minha homenagem às 228 vítimas do voo 447 da Air France, registrar o que desejo que seja lapidado no meu epitáfio: um poema de Drummond.


Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.

Carlos Drummond de Andrade

Foto de Rodrigo Marques Barbosa, litoral de SP

4 comentários:

Fabi disse...

Não vou falar q prometo fazer isso por vc pq a gente ñ sabe quem vai ser convocado primeiro. Mas será registrado o seu desejo! Belo poema

Dog disse...

Passando aqui mais uma vez pra deixar um pequeno recado, gostei muito do post

tenho gostado bastante do blog!

até a proxima

grande abraço

Dilma disse...

perfeito!

Patricia Vieira de Andrade Ramos disse...

Complementando ...com Drummond

Ausência

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Patricia Vieira de Andrade Ramos

Postar um comentário