Encarar o tema da morte, por mais mórbido ou desagradável que seja, nos é inevitável.
O trágico acidente de hoje com o avião da Air France mexe com o fundo da nossa consciência e nos faz refletir sobre quão sensíveis, pequenos, frágeis somos e, ao mesmo tempo, tão queridos, únicos e especiais.
Apesar de, no mundo, morrerem anualmente mais pessoas vítimas de picadas de abelhas do que de acidentes aéreos, só nos deparamos com a morte, a única certeza que temos sobre a existência, quando ela nos choca como nos chocou o noticiário nesta manhã.
Por isso, quero aqui, além de deixar minha homenagem às 228 vítimas do voo 447 da Air France, registrar o que desejo que seja lapidado no meu epitáfio: um poema de Drummond.
Memória
Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.
Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.
Carlos Drummond de Andrade
Foto de Rodrigo Marques Barbosa, litoral de SP
4 comentários:
Não vou falar q prometo fazer isso por vc pq a gente ñ sabe quem vai ser convocado primeiro. Mas será registrado o seu desejo! Belo poema
Passando aqui mais uma vez pra deixar um pequeno recado, gostei muito do post
tenho gostado bastante do blog!
até a proxima
grande abraço
perfeito!
Complementando ...com Drummond
Ausência
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Patricia Vieira de Andrade Ramos
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