19 de mai. de 2009

Sobre desejo e necessidade ou Carta Aberta a Gandhi


“A Terra tem tudo o que precisamos para viver. Mas apenas o necessário.”

Mahatma Gandhi (1869-1948)

São Paulo, 19 de maio de 2009


Nobre Sr. Gandhi,

Com todo meu respeito e admiração ao seu legado deixado à humanidade, permita-me fazer uma pergunta sobre sua frase que aqui me empresta como epígrafe:

Será mesmo que só precisamos do necessário?

Sei que há aí nessa minha contestação um certo paradoxo, afinal, o que é necessário deveria, por sua vez, englobar tudo o que nos basta. Não é mesmo? Ora, o que não é necessário seria dispensável. Seria?

Na minha opinião, tudo aquilo que é necessidade é mais chato. Já o que é desejo é sempre prazeroso.

Hoje entendo melhor o slogan (que, aliás, um ex-chefe meu, Sr. André Gonçalves – in memorian –, participou da criação):

“Diners. O cartão de quem não precisa.”

Ou seja, o cartão seria para aqueles que querem (e podem ter) os momentos de desejo, e não apenas os de necessidade.

Senão, vejamos alguns exemplos que gostaria de lhe compartilhar:

A obrigação é necessidade. A liberdade é desejo.

Sexo é necessidade. Sexo com amor é desejo.

A proteína da carne é necessidade. A picanha argentina é desejo.

A viagem a trabalho é necessidade. A viagem de férias é desejo.

Ler é necessidade. Ler Drummond é desejo.

Dormir é necessidade. Acordar é desejo.

Flavonoide é necessidade. Chocolate é desejo.

Vitamina C é necessidade. Suco de laranja é desejo.

O outro é necessidade. O amor do outro é desejo.

Tocar é necessidade. Carinho é desejo.

O amor de necessidade castra. O amor de desejo é liberto.

Respirar é necessidade. Suspirar é desejo.

Ouvir é necessidade. Música é desejo.

Parente é necessidade. Amigo é desejo.

Trabalhar é necessidade. Ajudar é desejo.

Blogar é minha necessidade. Você ler esse blog é meu desejo.

Para arrematar: Segundo Camões, “viver não é preciso. Navegar é preciso.” O resto é desejo.

Eu quero mais é desejar.

Porque, afinal, o que é necessidade a gente vai dar um jeito mesmo. Por obrigação. E não por escolha.

Já o desejo, não. Esse é por opção. Por vontade própria. Por decisão. É abrir mão de uma coisa em troca de outra. É desejar. É fazer o Universo se expandir.

E, assim, comungar com a divindade e o poder de criação que há em cada um de nós. Pois a necessidade é só necessidade. Já o desejo é criação.

Muito obrigado pela sua atenção.

Cordialmente,

Rodrigo Marques Barbosa

19 comentários:

M disse...

e desejar, é necessário?

Dog disse...

Gostei muito do blog, já coloquei seu link no
http://ermitaosurdo.blogspot.com/

estamos começando e gostariamos de contar com parceiros de talento!

otimos textos!

grande abraço!

Anônimo disse...

A frase: "Navegar é preciso, viver não é preciso" tem duplo sentido. Ele se refere "preciso" de "precisão" e não de "necessidade" ou seja, navegar tem que ter precisão, mas viver não tem precisão.
é isso.
abraços, Márcia

Rodrigo Marques Barbosa disse...

Obrigado a todos pelos comentários!

M, penso que necessário exclui o que é desejo. Logo, desejar está além. Desejar não é necessário, mas é indispensável. São coisas diversas.

Dog, obrigado! Vou visitar o seu blog e depois comento.

Márcia, sim, há duplo sentido na frase. Mas tudo o que não prescinde de precisão passa a ser necessidade. Afinal, o ato de desejar não deveria ter regras. Obrigado pelo comentário.

Bom dia a todos!

Roseli Turini disse...

Adoroooooooo suas matérias,

beijos e sucesso

Roseli

FAFÁ disse...

só tem uma coisa q não concordo contigo: "Dormir é necessário, acordar é desejo". No meu caso dormir é desejo, desejo e acordar é a realidade nua e crua, ainda mais em dias frios!

Rodrigo Marques Barbosa disse...

Fabi, obrigado pelo comentário e pela visita. Dormir, por melhor que seja, ainda é uma necessidade. Você não tem escolha: eventualmente vai dormir de qualquer jeito. Logo, não é desejo. Trata-se, no texto, de uma metáfora. Afinal, além de querer acordar e checar se está vivo para mais um dia, há de se desejar acordar para a vida também.

Anônimo disse...

"O amor de necessidade castra. O amor de desejo é liberto."
Essa frase acabou de dizer tudo o q estou vivendo...
Ótimo seu texto!
Eu quero mais é desejar tbém!
Bjo gde
Alessandra Pantoja

Anônimo disse...

Oi Rodrigo,

Excelente texto.
Querendo nós ou não,
parentes nos são impostos pela vida.
(muitas vezes não os queremos).
Os amigos são os irmãos que escolhemos ter.
Puro desejo.
Bjks

Érica Amadeu

Anônimo disse...

Desejo e necessidade são subjetivos, assim como o que é supérfluo e o que é essencial para a nossa sobrevivência, pois variam de acordo com o grau de evolução espiritual do indivíduo, onde o supérfluo para um pode não ser supérfluo para o outro.

Quanto à pergunta "Será mesmo que só precisamos do necessário?", a minha resposta é sim, porém, temos o direito de desfrutar o conforto que a vida nos proporciona, da mesma forma que temos o dever de ajudar o nosso próximo ou pela "caridade material" ou pela "caridade moral". E o mais importante de tudo é podemos ter de tudo, mas que não tenhamos apego às coisas materiais, pois elas não fazem parte da nossa verdadeira propriedade, uma vez que quando morremos, as deixamos aqui na Terra.

Acredito que devemos utilizar os nossos talentos (ou virtudes) para proporcionar auxílio ao desenvolvimento moral do nosso próximo, principalmente aos que convivem conosco em nossa família. Devemos corrigir os defeitos dos outros através de demonstrações dos nossos próprios exemplos, sem alarde.

Hugo Mizukami

Anônimo disse...

Rodrigo,
Adorei o texto.
Penso que quando nos tornamos indivíduos ( no sentido de independentes) passamos a poder ter mais desejos e menos necessidades.
Abraço!
Patricia
By Patricia Vieira de Andrade Ramos Personal Coach, www.personalcoach.com.br
posted 22 hours ago

Anônimo disse...

Meu amigo , sua reflexão é muito interessante ... Desejo esta sem dúvidas relacionado com prazer e necessidade para mim esta ligado ao dever ... obrigação !
At
Ubitaã Lima
By Ubiratã Lima Glass, Ceramics & Concrete Professional
posted 3 hours ago

Rafael Vazquez disse...

Ótima reflexao... dá até curiosidade de saber o que Gandhi responderia! abs

Anônimo disse...

Li o artigo e parece que está tudo certo.
Gandhi foi uma personalidade resignada e perseverante. Ele tinha a capacidade aparente de manter tranquilidade ao lidar com conflitos, inclusive os seus.
Nem sempre o necessário é o que necessariamente fazemos, assim como com o desejo.
Deveríamos nos preocupar mais com o outro e menos com o eu.
Este pensamento direciona à caridade, mas sem hipocrisia, achando que dando uma moeda estamos cumprindo com a nossa obrigação.
Queremos conquistar sempre muito mais do que poderíamos necessitar.
Esta é uma característa humana, o que estraga tudo é o olhar comparativo que se faz com outros. Pois, querer mais e acima da necessidade sem adotarmos o pejorativo da comparação é um dos grandes desafios.
Precisamos aprender a dividir e ser solidários.
Difícil - os apelos do marketing são muito fortes.
Este seria o grande desafio, o desafio de viver solidariamente e aprender.
Uma vez ouvi: "o que tu aprendeu hoje? e qual foi o teu ato de caridade?

Saudações,
Jorge

By
Jorge Canal Michalski Consultor/Consultant at CONTATO Consultoria

Rodrigo Marques Barbosa disse...

Jorge, obrigado pelo comentário muito rico!
Vem bem ao encontro do que eu disse no texto: "Trabalhar é necessidade. Ajudar é desejo."
Abraço,
Rodrigo

Anônimo disse...

Eu pelos menos acho que o nobre Ganghi tem razão, e como cada um de nós tem necessidades diferentes ...
By Deuwer Cassanga IT Manager at Banco Nacional de Angola

Anônimo disse...

VACÂNCIA MÓVEL: CHE VUOI?

Quando o desejo é palavra
idéia
pensamento
distinto portanto da necessidade e exigência.
Com o desejo do outro e aquilo que aponta - uma falta.

Yara
Posted by Yara Azevedo Cardoso

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Rodrigo Marques Barbosa disse...

A mensagem acima foi deletada, pois continha material promocional de venda de curso.

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