Miguel Jorge, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
Ouça a entrevista na íntegra:
Confira, com exclusividade, a entrevista concedida pelo jornalista e ministro Miguel Jorge ao blog 'Passa boi, passa boiada' (PBPB):
Fotos de Jô Rabelo
PBPB: O senhor começou sua carreira como repórter de jornal, participou do processo de criação da Autolatina, foi vice-presidente da Volkswagen e do banco Santander, e hoje está no Governo como Ministro de Estado. Caso semelhante é do Sr. Henrique Meirelles, atual presidente do Banco Central. Eu tive a experiência de trabalhar, indiretamente, na equipe dele no BankBoston no final da década de 90. Ele, então, estava bem colocado, era à época presidente mundial do banco. Pergunto: mesmo com a motivação do servir à Pátria, mesmo com a possibilidade de voltar ao mercado de forma ainda melhor após o período no Governo, como é abrir mão de uma posição de VP de um banco multinacional? O que motiva um profissional com tanta experiência, tanta bagagem, com pista para seguir nesse mundo corporativo, a deixar sua carreira para participar do Governo, levando-se em conta o risco e tudo o que isso pode trazer de bom e de ruim?
Miguel Jorge: Primeiramente, fui jornalista muito tempo. Atuei durante 24 anos como jornalista. Depois fiquei mais 14 anos na Volkswagen e outros seis anos e meio no Santander. Ou seja, durante boa parte da minha vida eu trabalhei com produção. Portanto, eu achava que poderia dar minha contribuição no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Se fosse um outro Ministério, dificilmente eu teria aceitado. Além disso, o fato de eu ter uma relação pessoal com o Presidente Lula me ajudou na decisão, pois também vi que ele poderia me ajudar na minha atuação como ministro. Outra coisa foi o fato de eu conhecer muito a estrutura desse ministério. Durante todos os anos na indústria automobilística, a minha relação mais forte como representante da Volkswagen – e muitas vezes como representante do próprio setor – era com esse Ministério, à época chamado apenas de Ministério da Indústria e Comércio. Depois de um determinado ponto na sua carreira, ou seja, após ter sido VP da Volkswagen, VP do Santander – que é um dos cinco maiores bancos do mundo – restam poucos lugares para ir. Portanto, mesmo que alguns pensem ser babaquice, chega uma hora que você realmente pensa que tem de dar uma contribuição. Tem de ajudar a fazer com que as coisas aconteçam com a melhor das intenções, com muita dedicação.
Da esq. à dir., ministro Miguel Jorge, prof. João Evangelista (Metodista), e Rolf-Dieter Acker, presidente da Basf América do Sul
PBPB: O Sr. se realizou ou está se realizando nisso que o motivou a ir para o Governo?
Miguel Jorge: Com todas as dificuldades que há no Governo, como, por exemplo, levar quatro meses para conseguir vacinas contra a gripe para as pessoas com mais de 60 anos é complicado. Numa empresa privada, você consegue resolver e fazer isso acontecer em 24 horas. No meu ministério, levamos quatro meses para fazer a concorrência, aprovar o plano etc. Só agora, na última terça-feira (26), a vacinação teve início. Eu fui o primeiro lá na fila para tomar a vacina. Mas mesmo com toda essa dificuldade, com toda essa burocracia da estrutura, que é muito pesada, é possível realizar muita coisa. E numa fase como a que nós estamos passando, com essa crise difícil, nós temos trabalhado muito. É claro que o país já tinha fundamentos muito fortes, mas as ações do Governo têm sido rápidas e têm nos ajudado a superar a crise. Além disso, a experiência que você traz da iniciativa privada ajuda muito nesse caso.
Alunos da Metodista durante seminário sobre Comunicação Corporativa
PBPB: Vamos falar agora não do ministro, não do executivo, mas do Miguel, do ser humano que está aí dentro, que deve estar acima de tudo isso. Como o senhor se vê frente às suas escolhas, à sua realização pessoal, profissional, às etapas por que já passou e agora ter chegado aonde está?
Miguel Jorge: É a primeira vez que me perguntam isso, apesar de eu já ter refletido muito sobre essa questão. Eu nunca tinha pensado em conquistar tudo isso. Eu comecei como repórter. Nunca pensei que de repórter eu passaria a subeditor, editor, chefe de reportagem, depois diretor de redação de um jornal como o Estadão. E de repente, num almoço aqui