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O shopping center é uma cidade dentro da cidade. O mundo perfeito protegido por cercas, seguranças. A própria arquitetura e o modus operandi refletem isso: lá não há mendigos, não há favelas, não há semáforos.
Há o cheiro, a música e a temperatura, que tentam ser agradáveis. Há a beleza (questionável) das vitrines, os objetos de consumo da classe média, a conveniência dos serviços, o Papai Noel no final do ano, o coelhinho na Páscoa, o Mickey no dia das crianças.
Para se ter uma ideia, a cada 4 dólares faturados no varejo americano (território pátrio dos mundialmente difundidos centros de compras), 3 têm origem em shopping centers. Sendo mais exato, esse modelo de empreendimento imobiliário e comercial responde por 72% do faturamento do varejo dos Estados Unidos, o mais pujante do planeta.
No Brasil, essa relação é mais tímida: 21% das vendas do varejo são realizadas nos shopping centers (fonte: Folha de S.Paulo, edição de 6/8/2009, página B2, coluna Mercado Aberto). Segundo o Ibope, os shoppings brasileiros têm potencial para alcançar a marca de 40% de participação no total do bolo do varejo tupiniquim.
Mas qual é a magia, quais são as artimanhas utilizadas por esses poderosos ícones do consumismo?
Já repararam que nos corredores desses gigantescos prédios não há sinalização indicando a saída?
Perceberam também que, uma vez dentro do shopping, não dá para saber se é dia ou se é noite, se chove ou se faz sol, se está frio ou calor?
Não há relógios para se saber a hora!

O shopping virou o ideal da classe média, o consumismo instituído, o modelo perfeito de família: lindo casal jovem com filhos pequenos, dentes perfeitos, bochechas coradas.
Essa herança é proveniente do modelo capitalista americano de se organizar o sistema de compras em grandes centros comerciais. A ideia de centralizar as lojas e os serviços fez com que o próprio desenvolvimento urbanístico refletisse essa realidade através da proliferação, por exemplo, de condomínios residenciais fechados, causando a degradação das regiões centrais de grandes cidades (como resultado da fuga de clientes e comerciantes para os shopping centers).
Sem mencionar a descaracterização das regiões residenciais, abandonando o conceito tradicional de centros de convivência, uma vez que há a diminuição nesses bairros da quantidade de lojas, farmácias, açougues, serviços e até opções de lazer.
Essas funções sociais vêm sendo abocanhadas cada vez mais pelos shoppings.
Há algo de errado nisso? Algo de bom? Não pretendo aqui aprofundar a discussão do tema. Afinal, esse artigo apenas toca a superfície, mas proponho fazermos a reflexão sobre como o modelo dos shopping centers contribui ou não para a construção de uma sociedade mais sadia, justa e solidária.
Fica o convite para todos comentarem.
